23 agosto 2008

Kung-Fu Panda (Mark Osborne e John Stevenson, 2008)


O ursinho po é uma alma sonhadora, sempre a divagar para um munfo onde é a aestrela do kung fu na aldeia local. Um mero ajudante no restaurante de sopas do pai adoptivo (um ganso), chega no entanto, o dia em será elevado ele próprio ao estatuto de potencial herói com que tanto havia sonhado.

A dreamworks volta à carga, na épica batalha pelo controlo do mercado da animação onde sempre ocupou o segundo lugar (a Pixar domina) e agora parece estar a perder mesmo essa capacidade de ser o segundo melhor estudio neste género fílmico. Shrek 3 não foi o sucesso de critica que se esperava, revelando que a fórmula pode estar a atingir a data limite de validade. Constantes referências à cultura pop sempre basearam todo e qualquer esforço fílmico, na animação, do estudio fundado por Spielberg, Geffen e Katzenberg, algo em que Kung Fu Panda já não aposta para manter a frescura e arrancar gargalhadas à sua plateia. Aqui é aproveitada a extrema inadaptação do urso Po a toda e qualquer tarefa física em que se envolve. Daqui resultam alguns momentos assinaláveis de "slapstick", fazendo com que o filme valha por si próprio, sem recorrer à muleta de referências a outros filmes ou a eventos famosos da cultura planetária.

A narrativa é desenrolada com alguma facilidade, o que não é alheio ao facto de toda a estória ser bastante simples: o tigre mau está preso, teme-se a sua fuga e nomeia-se um herói para o derrotar, o herói terá primeiro de ultrapassar os seus próprios receios e aceitar aquilo que é para conseguir a vitória. Bastante simples e até reflexo de anos de dominio de outro estudio no campo da animação. É impossível não sentir o aroma a Disney quando reparamos na "Moral" da estória: tudo o que precisas para ter sucesso está dentro de ti. Não deixa de ser uma espécie de retrocesso no caminho trilhado pela Dreamworks, que, especialmente no franchise do ogre verde, primou por apresentar personagens fora do comum e questionar o legado de Walt Disney ao mundo da animação.

Com as habituais vozes de estrelas de carne e osso, Po reflecte em muito Jack Black, actor que lhe dá voz e, muitas vezes, parece também emprestar algum do seu carisma de movie-star alternativa. Dustin Hoffman brilha na voz de Shifu e a agradável surpresa do filme, conseguindo transmitir vocalmente um abrangente leque de emoções (ao que não é também alheia a evolução da animação computorizada). Como grande ponto de destaque há que referir a sequência inicial, plena de vigor cromático, reminiscente mesmo do género kung-fu. Como ponto negativo... quase tudo o resto. A Dreamworks continua a cair no erro de escolher uma overdose de estrelas para emprestar a voz às suas criações, dando a sensação de rídiculo quando anuncia determinado actor que não tem tempo para, através da voz, fazer notar a sua presença ao público. Alguém reparou em Seth Rogen e Angelina Jolie neste filme?

Nota-se o esforço de sair de erros comuns num passado recente, mas há ainda que trabalhar bastante no desenvolvimento de narrativas mais exigentes para um publico, também ele, habituado à marca de qualidade da Pixar.

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