28 agosto 2008

Cátia Vanessa Boliqueime

Já falta pouco para a estreia do mais recente filme do Woody Allen, "Vicky Christina Barcelona". Até lá, temos aquilo que mais se aproxima a um extra de dvd produzido pelo nova-iorquino: "excertos" um diário de rodagem publicados no New York Times. Aqui está o link.
Deixo apenas um exemplo do que poderão lá encontrar, no bom estilo "Allenniano"
JULY 15
Once again I had to help Javier with the
lovemaking scenes. The sequence requires him to grab Penélope Cruz, tear off her
clothes and ravish her in the bedroom. Oscar winner that he is, the man still
needs me to show him how to play passion. I grabbed Penélope and with one motion
tore her clothes off. As fate would have it she had not yet changed into
costume, so it was her own expensive dress I mutilated. Undaunted I flung her
down before the fireplace and dove on top of her. Minx that she is, she rolled
away a split second before I landed causing me to fracture certain key teeth on
the tile floor. Fine day’s work, and I should be able to eat solids by
August.

23 agosto 2008

O "Botas" Americano

Aqui encontram um making of de algumas das cenas do filme. Pode até nem vir a ser grande coisa, mas de certeza que vai levar muita gente ao cinema.

Enquanto o Tarantino esfrega um olho - II

Pois, aquilo que era verdade à umas semanas atrás já não o é agora. Até parece que estou a iniciar um texto sobre o futebol português, mas não. Para falar novamente sobre Inglorius Bastards, o próximo Tarantino que, afinal, já não vai contar com Simon Pegg...

Kung-Fu Panda (Mark Osborne e John Stevenson, 2008)


O ursinho po é uma alma sonhadora, sempre a divagar para um munfo onde é a aestrela do kung fu na aldeia local. Um mero ajudante no restaurante de sopas do pai adoptivo (um ganso), chega no entanto, o dia em será elevado ele próprio ao estatuto de potencial herói com que tanto havia sonhado.

A dreamworks volta à carga, na épica batalha pelo controlo do mercado da animação onde sempre ocupou o segundo lugar (a Pixar domina) e agora parece estar a perder mesmo essa capacidade de ser o segundo melhor estudio neste género fílmico. Shrek 3 não foi o sucesso de critica que se esperava, revelando que a fórmula pode estar a atingir a data limite de validade. Constantes referências à cultura pop sempre basearam todo e qualquer esforço fílmico, na animação, do estudio fundado por Spielberg, Geffen e Katzenberg, algo em que Kung Fu Panda já não aposta para manter a frescura e arrancar gargalhadas à sua plateia. Aqui é aproveitada a extrema inadaptação do urso Po a toda e qualquer tarefa física em que se envolve. Daqui resultam alguns momentos assinaláveis de "slapstick", fazendo com que o filme valha por si próprio, sem recorrer à muleta de referências a outros filmes ou a eventos famosos da cultura planetária.

A narrativa é desenrolada com alguma facilidade, o que não é alheio ao facto de toda a estória ser bastante simples: o tigre mau está preso, teme-se a sua fuga e nomeia-se um herói para o derrotar, o herói terá primeiro de ultrapassar os seus próprios receios e aceitar aquilo que é para conseguir a vitória. Bastante simples e até reflexo de anos de dominio de outro estudio no campo da animação. É impossível não sentir o aroma a Disney quando reparamos na "Moral" da estória: tudo o que precisas para ter sucesso está dentro de ti. Não deixa de ser uma espécie de retrocesso no caminho trilhado pela Dreamworks, que, especialmente no franchise do ogre verde, primou por apresentar personagens fora do comum e questionar o legado de Walt Disney ao mundo da animação.

Com as habituais vozes de estrelas de carne e osso, Po reflecte em muito Jack Black, actor que lhe dá voz e, muitas vezes, parece também emprestar algum do seu carisma de movie-star alternativa. Dustin Hoffman brilha na voz de Shifu e a agradável surpresa do filme, conseguindo transmitir vocalmente um abrangente leque de emoções (ao que não é também alheia a evolução da animação computorizada). Como grande ponto de destaque há que referir a sequência inicial, plena de vigor cromático, reminiscente mesmo do género kung-fu. Como ponto negativo... quase tudo o resto. A Dreamworks continua a cair no erro de escolher uma overdose de estrelas para emprestar a voz às suas criações, dando a sensação de rídiculo quando anuncia determinado actor que não tem tempo para, através da voz, fazer notar a sua presença ao público. Alguém reparou em Seth Rogen e Angelina Jolie neste filme?

Nota-se o esforço de sair de erros comuns num passado recente, mas há ainda que trabalhar bastante no desenvolvimento de narrativas mais exigentes para um publico, também ele, habituado à marca de qualidade da Pixar.

11 agosto 2008

"The Incredible Hulk" (Louis Letterrier, 2008)



Bruce Banner está agora no Rio de Janeiro, habita nas favelas e trabalha afincadamente para encontrar uma cura para os seus “acessos de fúria” Entretanto, mais a norte no continente americano, o general Ross usa toda a tecnologia ao seu dispor para encontar o cientista foragido.
Segundo filme produzido exclusivamente pela Marvel, segunda tentativa de transpor o Homem Verde ao grande ecrã. Na primeira tentativa o resultado foi um dos blockbusters mais interessantes até à altura, com uma abordagem extremamente psicológica de Ang Lee às origens do Hulk. Estimulante em todos os sentidos, na tentativa, bem sucedida, de fusão entre a linguagem cinematográfica e as vinhetas da bd, Ang Lee conseguiu imprimir um ritmo muito interessante a um filme que podia não o ter, dado tratar-se de uma sempre problemática “História de Origem”de um Super-Herói. O que faltou, então, para a Marvel decidir-se a uma nova abordagem à personagem? Apesar de ter sido um sucesso de bilheteira, o final demasiado simbólico assutou os fãs acérrimos da personagem e o espaço de Ang Lee para continuar à frente de um hipotético franchise esgotou-se.

Trate-se então de chamar um realizador especialista em cinema de acção, Louis Leterrier, e investir a fundo em efeitos visuais de ultima geração. No entanto, um pormenore há a destacar na abordagem da Marvel Comics ao conceito de blockbuster: os actores. Na sua primeira produção independente, foi notório o investimento em actores de qualidade reconhecida (Jeff Bridges, Robert Downey Jr são bons actores em qualquer filme) e para este Incredible Hulk foram chamados nada mais, nada menos, que Edward Norton, William Hurt e Tim Roth. Um ponto a favor da nova versão. Também é bom de notar alguma tentativa em não descartar completamente a versão anterior. Para isso, nada melhor que uma solução extremamente simples: os créditos inicias servem para re-inventar a História de origem desta personagem, já não deve os seus problemas de anger management a experiências do próprio pai, mas sim a um trabalho que testou nele próprio. Re-mitificação do nascimento tratado ainda antes da primeira linha de diálogo e sem descartar o trabalho de Ang Lee, uma vez que esta nova versão se inicia na América do Sul, para onde remetia o final do filme anterior. Trabalho sem falhas, até aqui. Começam os problemas. Liv Tyler é uma Betty Ross muito inferior a Jennifer Connely, tratando-se aqui do único ponto franco no elenco, sendo sempre de louvar a tentativa da Marvel de trazer actores de qualidade às suas produções, aqui alguém falhou no casting.

A grande aposta nesta nova versão era claramente forçar a nota no filme de acção. Para isso foi contratado o (suposto) especialista Louis Leterrier. Confesso que não conheço o trabalho anterior do senhor. Sei que é responsável pelos “Correio de Risco” que, ao que parece, são bons. Pela amostra em Incredible Hulk confesso que fiquei desiludido. Não há aqui a frescura e o arrojo que Lee utilizou na versão anterior quando introduziu os códigos da bêdê na linguagem cinematográfica (que saudades do dinamismo de montagem da versão anterior). Aqui até a fotografia parece ter demasiado grão e a técnica de realização resume-se à utilização excessiva de imagens aéreas para introduzir um novo espaço de acção. O argumento parece sólido e bem construído, abrindo espaço para a entrada em cena de novos heróis da Marvel no mundo cinematográfico, ainda utilizando algo que é bastante frequente no mundo dos quadradinhos desta empresa: os cruzamentos de personagens centrais.

De uma maneira estranha, as duas versões do Hulk acabam por se completar, se na versão original, era a coragem de levar o herói ao interior de si próprio e reflectir isso na utilização estimulante de novos códigos, aqui encontramos alguns actores de créditos bem firmados a fazerem aquilo que fazem melhor. Tanto o vilão deste filme é mais ameaçador como o confronto final mais recompensador para espera ver acção de grande calibre neste tipo de filmes. Juntos, ambos os filmes poderiam fazer uma grande obra, sendo assim acabam por ser apenas duas interpretações com algumas falhas e bastantes boas intenções.

Enquanto o Tarantino esfrega um olho

Nas ultimas semanas têm sido muitas as novidades e os rumores à volta do novo projecto do realizador com o queixo proeminente. Já se sabia o título (Inglorious Bastards) e como a sinopse parece decalcada do "Doze Indomáveis Patifes". Agora, temos já dois nomes dados como certos no elenco, um deles de peso, o outro uma surpresa que pode resultar em algo muito agradável. Brad Pitt e Simon Pegg.
Sim, esse Simon Pegg.

Parece que é já esta semana

que voltamos a ter Pixar.

"Forgetting Sarah Marshall" (Nicholas Stoller, 2008)

Gosto de Judd Apatow. Gostava das séries que criou para a televisão e vim a saber mais tarde serem dele: “Freaks and Geeks” e “Undeclared”. Aqui encontra-se a génese do humor perpetuado nas obras com o dedo Apatowiano (permitam-me cunhar o termo): os desajustados, os marginais de determinada classe assumem o protagonismo e por isso é tão fácil aderir a esta migração para o cinema de conceitos e personagens que antes não o povoavam. Já não são as personagens representativas do maior denominador comum que aparecem aqui, são os amantes da marijuana, os perpetuamente inadaptados que Apatow ama e apresenta ao seu espectador. Basta ver quem são as personagens centrais dos seus filmes. Em “Virgem aos 40 anos” é ... bem, o título explica. A personagem de Steve Carrel era ainda o desajustado adolescente sem jeito para abordar raparigas e que mantinha uma colecção enorme de “action-figures” ainda dentro da embalagem original, para não perderem valor. “Superbad” recua até ao final da adolescência e ao momento marcante em que os dois melhores amigos se separam para melhor apreciarem as companhias femininas. “Knocked Up” apresenta outro momento de passagem, o jovem adulto que se apercebe que vai ter um filho e tem de se deixar dos hábitos do lobo que vive em alcateia em regime de sobrevivência hedonista.
Com todo este discurso prévio pretendo demonstrar como, apesar de ter emitido juízo de valor extremamente subjectivo logo no início do texto, este texto baseia-se em critérios objectivos, atrevo-me mesmo a considerar Apatow um “Autor”, sim com a maíuscula, dada a sua persistência em tratar certos temas e centrar as suas obras, como realizador ou produtor, em tipos de personagens muito específicos. Agora com “Forgetting Sarah Marshall” encontramos novamente o jovem adulto. Desta vez é um jovem adulto de sucesso, a trabalhar numa área que escolheu, apesar de não ter toda a liberdade criativa que desejaria, e encontramos outro momento marcante para a vida masculina: o abandono da namorada de longa-duração. Peter Bretter é o compositor de banda sonora de uma série televisiva de sucesso, da qual a namorada é a estrela e a Sarah Marshall do título. Destroçado pela ausência da namorada decide tirar um período de férias no Havai onde, enorme azar para ele, mas motor do filme, volta a encontrar Sarah, também de férias mas com o novo namorado, o rocker britânico Aldus Snow.Nick Stoller dobra como argumentista e actor principal, ele que já havia trabalhado com Apatow em “Freaks...” e em “Koncked Up” e pode ser visto na interessante série “How I Met Your Mother”. Sendo o argumentista o principal actor, não se pode deixar de referir o coração e alma com que Stoller agarra a personagem. No trabalho de actores há pouco mais a destacar (já vi o filme há cerca de dois meses, posso não me estar a lembrar de todos), com interpretações competentes da maioria do elenco e um Russell Brand fantástico como Snow mas que me parece ser apenas uma persona que este comediante britânico já adoptou (uma recente entrevista levo-me a esta conclusão). De facto, as personagens parecem ter sido adaptadas à personalidade dos actores com Jack Mcbrayer a interpretar novamente um inocente vindo do sul dos Estados Unidos, tal como em 30 Rock, Paul Rudd é o descontraído instrutor de surf e Mila Kunis é a simpática recepcionista do Hotel. Posso andar longe da definição psicológica destes actores mas as persongens que normalmente interpretam apresentam estas características. Estaremos perante um caso de type-casting aplicado a todo um elenco de um filme? Fica a dúvida no ar, pelo menos para já.
Deixando a parte saborosa e que me vai merecer mais elogios para mais à frente, passemos pela realização e aqui gostaria de colocar uma enorme dúvida: qual é o estilo de realização para a comédia? Visto sempre como um género menor, poucos são os actores ou filmes distinguidos ao mais alto nível nesta categoria e a dúvida perpetua-se neste filme. A realização é extremamente funcional, sem qualquer rasgo que lhe possa ser apontada, de tal modo que o nome do realizador me escapa neste momento. Valerá talvez uma investigação aprofundada, quiçá uma tese de mestrado nos próximos anos, identificar códigos e marcas de realização no género comédia... Existem alguns problemas de raccord, nomeadamente numa cena em Peter tem um copo e, por artes mágicas, o copo muda de mão em cada troca de plano. Nada de muito grave e que possa de alguma estragar aquilo de que vou escrever a seguir.
Tal como em todas as outras obras com o dedo da linha de montagem de Judd Apatow, “Sarah Marshall” está carregado de referências à cultura pop. A começar logo nos primeiros planos do filme, com a apresentação da série onde a personagem titular trabalha, “Crime Scene: scene of the crime”, em que Sarah Marshal é uma detective especializada em Ciências Forenses, especialização que usa para capturar criminosos, em parceria com um outro detective, este com uma pose excessivamente cool, sempre de óculos escuros na cara e com um one-liner pronto a sair a qualquer instante, antes de entrar a banda sonora. Uma clara referência a... Vá lá, eu sei que vocês sabem... Não, não vou dizer, deixem lá nos comentários as hipóteses e dou um chupa a quem adivinhar primeiro.Em frente, a sátira às celebridades do mundo do entretinemto é o ponto forte deste filme. A começar pela mimetização das populares séries de investigação, Aldus Snow é depois apresntado como uma versão ainda mais exagerada de Bono e a sua suposta consciência social. No entanto, como a consciência social já não vai estando na ordem do dia, Snow é eco-consciente e a sua canção de despertar de mentes é “Alguém tem de fazer alguma coisa”, um hino a toda a piroseira pop que vai povoando os tops dos mais vendidos. O filme prossegue, alegremente destruindo ícones pop até, alguns minutos depois do inicio da película, somos brindados com a nudez frontal de Nick Stoller, mostrando como o resto do filme seguirá o registo do Humor de Humilhação.
Há um problema com os filmes de Judd Apatow no mercado cinematográfico português. A que público devem ser dirigidos? Até aqui temos assistido a traduções ignóbeis que desvirtuam completamente a percepção que espectador pode ter do conteúdo do filme. Super-Baldas (acompanhado de uma campanha de spots publicitários horríveis) e “Um Azar do Caraças” são dois exemplos de traduções que apelam a um público mais familiarizado com a saga American Pie e com o seu humor debragado e sem qualquer neurónio que o sustente. Nos filmes de Apatow encontramos, à primeira vista, o mesmo tipo de humor que sobrevive através de funções corporais em situações inapropriadas e innuendos sexuais de baixa estirpe. Sim, estas características estão lá, à superficie, mas mascaram uma camada inferior de sátira bem pensada (o trabalho de Stoller como argumentista deste filme é assinalável) e, sobretudo, de momentos importantes na existência de qualquer ser humano que acabam por demonstrar uma sensibilidade de tratamento assinalável. Como prova de ma campanha publicitária mal direccionada e da escolha do genial título nacional de “Um belo par... de patins” temos as meninas me fizeram companhia enquanto espectadoras na exibição deste filme. Olhando de relance a conclusão que se podia tirar era estar na companhia de um grupo de adolescentes de 14-15 anos, sem capacidade de encaixe para a maior parte das referências pop que, claramente, foram ao engano. Deixo-vos com a pérola que ouvi aquando da nudez frontal do actor principal, precedida de inspirações de espanto: “Não vi!”...

ERRATA: onde se lê Nick Stoller, referindo-se ao actor principal e argumentista do filme, deve ler-se JASON SEGEL. As desculpas ao visado.

Em Busca do Tempo Perdido

Não, não vou falar de como saborear madalenas me levam de volta à infância, este post apenas serve para avisar que nos próximos dias voltarei aqui com algumas críticas atrasadas. Algumas de filmes que já não se encontram nas salas de cinema, outras de estreias mais recentes. Apesar de trabalhar sete horas por dia, há que justificar o período de férias académicas.