28 dezembro 2006

É uma espécie de Magia





The Prestige
2006. EUA, Reino Unido
Real: Christopher Nolan
Com: Hugh Jackman, Christian Bale, Michael Caine, Scarlett Johansson, David Bowie.

Robert Angier e Alfred Borden são dois mágicos rivais na Londres de viragem de século. Quando um deles apresenta o truque de magia indecifrável e perfeito, o outro não olhará a meios para descobrir o segredo.

“Todos os truques de magia têm três actos”. É com estas palavras que Michael Caine nos dá as boas-vindas ao mais recente trabalho de Christopher Nolan, depois de Batman Begins. Depois de tanta expectativa acumulada desde o final do Verão o mínimo que posso dizer deste “Terceiro Passo”, é que não desilude. Jackman e Bale têm capacidade e carisma para aguentar esta filme de uma ponta à outra e a sua rivalidade torna-se bastante realista. Apoiados por um elenco de secundários bastante consistente (Caine, Johansson, Andy Serkis e David Bowie), têm todas as condições para brilhar.

Tido como um dos melhores realizadores da actualidade, Nolan não deixa os créditos por mãos alheias, e parece ter uma predilecção para alterar a sequência temporal dos filmes que dirige. Depois do inesquecível “Memento”, em que apresenta o filme de trás para a frente, em “The Prestige” aposta numa sequência temporal não linear para manter o espectador agarrado a todas as cenas do filme, forçando-o a estar atento a todas linhas de diálogo, para perceber em que parte da estória terá de encaixar a sequência a que está a assistir. Revela-se fulcral, esta técnica, para aumentar a expectativa no espectador e entregar um final bastante recompensador para quem tiver a paciência de esperar por ele.
Sem este recurso, no entanto, penso que o filme poderia sucumbir a alguns lugares-comuns que o atormentam, mas que não revelarei aqui... Fora os dois ou três mecanismos mais básicos, o argumento é bastante sólido, uma estória bastante bem construída num filme com um bom design de produção e com um ritmo muito consistente (não existem quebras, momentos em que o espectador adormeça). Mas o ponto forte são mesmo as interpretações. Hugh Jackman prova mais uma vez que é um dos “leading men” mais versáteis da actualidade e Christian Bale não lhe fica um mílimetro atrás. Quem diria que o puto de “O Império do Sol” se transformaria num tão bom actor?...

Infelizmente, um erro técnico numa das sequências finais do filme prejudica o que tinha sido quase irrepreensível. Aliado a alguns lugares-comuns que já referi atrás, não me permite ir além da classificação Bom, mas com uma recomendação muito forte para a ida ao cinema espreitar este truque de magia em formato cinematográfico.
P.S.- Bem cool aquele poster, não?

27 dezembro 2006

Uma Farsa de Natal...


FARCE OF THE PENGUINS
EUA, 2007
Real: Bob Saget
Vozes: Samuel L. Jackson, Lewis Black, Bob Saget, Christina Applegate, Whoppi Goldberg

Jimmy e Carl são dois pinguins-imperador prestes a iniciar a viagem que os vai levar até ao desejado território de acasalamento. Durante a viagem vão falar de coisas importantes: a procura do amor verdadeiro, a auto-confiança, o facto de não conseguirem coçar o próprio rabo e entrar numa acesa discussão com o narrador do filme (Jackson).

Depois do sucesso planetário que foi A Marcha dos Pinguins, documentário sobre a migração anual do Pinguim-Imperador para cumprir a obrigação de perpetuar a espécie, era uma questão de tempo até que alguém resolvesse gozar com o filme. Bob Saget foi quem teve o arrojo de o fazer. Saget é um comediante norte-americano com pouca projecção internacional, mas bastante reconhecimento doméstico, fruto de uma coisa dos anos oitenta chamada “Full House” (nada a ver com a nossa Casa Cheia”) e depois com um outro programa chamado “America's Funniest Home Videos” (alguém pediu um Vírgilio Castelo?).
Em termos fílmicos, esta farsa dos pinguins não traz nada de novo. Saget aproveita as imagens do filme sério e acrescenta diálogos aos animais. Apenas a notar a audácia de acrescentar imagens de outros filmes quando é necessária uma referência ao mundo exterior à Antárticta.

O que torna o filme divertido é a humanização dos pinguins. Todos eles têm personalidades. Carl é o neurótico, traumatizado por relações falhadas no passado e com duvidas existenciais que, normalmente, assaltam apenas as criaturas que caminham em duas pernas. Jimmy é o melhor amigo que todos têm, confiante e com capacidade de ajudar Carl quando este mais precisa. Aparecem ainda Marcus, o “afro-pinguim” avantajado e Sidney, aquele que ainda não saiu do armário... Ainda a referir a auto-ironia que percorre todo o filme, do inicio ao fim, presente principalmente quando as duas personagens principais interrogam o narrador do filme sobre o facto de não terem nenhuma caracteristica que os distinga, tornando-se assim, iguais, mesmo aos olhos dos próprios...

No entanto, sendo a Comédia um território instável (gelo fino, arrisco a piada), é inevitável achar que tanta piada escatológica e sexual é demais. A duração é também demasiado longa, uma abreviação no período da viagem seria desejável para contribuir para um ritmo mais agradável.
Analisando friamente, “Farce of the Penguins” sofre pela falta de originalidade visual, pelo exagero de conteudo restrito e por um ritmo desigual, mais lento no meio da história.

Não deixo no entanto de referir que o filme é bom se o espectador procurar apenas uma hora e picos de divertimento sem ter de se esforçar muito.