02 junho 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008, Steven Spielberg)

O professor Henry Jones Jr acaba de escapar, por pouco, a um encontro com agentes soviéticos no deserto do Nevada. No entanto, após os ter ajudado, sob coacção, a recuperar um artefacto de um armazém no meio do nada, as suas actividades caem sob a alçada investigadora do FBI, sendo suspeito de actividades não-americanas. É aqui que surge “Mutt” Williams, jovem que o recruta para procurar um antigo amigo perdido nas selvas da América do Sul.


Esperava ansiosamente pela estreia de “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”. Sou fã do arqueólogo mais famoso do planeta e aguardava com alguma expectativa o regresso do homem do chapéu e chicote, 19 anos depois. As primeiras críticas, que fui lendo na diagonal para não correr risco de me serem revelados pormenores importantes, davam a sensação que Lucas tinha feito o mesmo que no Episódio A Ameaça Fantasma de Guerra das Estrelas, ou seja, estragado a coisa quase irreversivelmente. Mantive um entusiasmo contido, porque não era Lucas na cadeira de realizador, mas sim Spielberg e, por muitas coisas que o homem seja, ainda acho que mantém um bom senso razoável, mas também porque, caramba: é o Indy! O homem que encontrou a Arca da Aliança, descobriu e derrotou uma seita obscura nos confins da Indía e, last but not least, bebeu do Cálice Sagrado. Tenho uma teoria sobre o porquê desta resistência insana ao mais novo capítulo das aventuras de um dos mais espectaculares heróis de acção de todos os tempos, apesar de ser professor catedrático... Reservo essa teoria para depois da análise ao filme. Era uma tarefa arriscada, recuperar um herói, tendo de actualizar a linha cronológica para que a personagem acompanhasse o envelhecimento natural do actor que lhe dá corpo e rosto. Mesmo em termos de estória a apresentar, seria cada vez mais complicado, porque os tempos de aventura sem rede estavam cada vez mais longe, com os anos 30 a serem apenas uma recordação no retrovisor da Hitória (bonito, hã?). Encontramos agora Indy nos anos 50, época que nos Estados Unidos corresponde a filmes de série B sobre extraterrestres, o “Perigo Vermelho” e o início de convulsões sociais, com os primeiros sons do rock a serem ouvidos. Ao olhar para os primeiros dez minutos de filme podemos marcar um visto em cada uma destas categorias. Os jovens que desafiam o condutor de uma coluna militar para uma pequena corrida, ao som do “Roque”, elementos dessa coluna militar que acabam por se revelar soldados soviéticos em busca de uma determinado artefacto num armazém... Não, não vou revelar, apesar de ser no início do filme, é já relevante para o desenvolvimento da narrativa. E é aqui que começo por falar o ritmo do filme. Alucinante, desde o incio. Cenas de acção bem montadas, com os ângulos bem escolhidos e com o respeito suficiente pelos espectadores para lhes permitir olhar e ver tudo o que se passa no cenário, não cedendo ao estilo de montagem MTV-OLHEM-NÃO-OLHEM-JÁ-PASSOU-QUALQUER-COISA-IMPORTANTE-E-VOCÊS-NÃO-VIRAM. Sim, sr. Michael Bay, era para si...
“Old School”, tal como a deliciosa vilã Irina Spalko (óptimo nome para um vilão) promete no início. No entanto, é nesta personagem de cate Blanchett que começam as falhas do filme. Spalko é uma vilã mal aproveitada, aquele sotaque fantástico (Ucrânia, de acordo com o Dr. Jones) merecia muito mais tempo de ecrã. Há que referir o já anunciado regresso de Marion Ravenwood, outra personagem que merecia ser mais bem aproveitada, nota-se perfeitamente que foi colocada no guião já com o navio a zarpar do cais e apenas por exigência dos fãs. No entanto, é sempre um prazer ver Marion e a forma como Karen Allen e Harrison Ford mantém uma química invejável, mesmo depois de tanto tempo. A personagem destinada a ser aqui o “sidekick” de Indy é claramente Mutt. Shia Laboeuf, aqui a ser apontado como futuro sucessor da série de aventuras à moda antiga, em mais do que uma maneira. Há algo na química entre Indy e Mutt que lembra a dupla Jones, Sr e Jr de A Ultima Cruzada. Não só esse pormenor que já toda a gente sabe, mas com o próprio Indy a replicar expressões utilizadas pelo pai durante a ultima aventura (“Isto é intolerável”, que pormenor delicioso aquando da fuga dos soviéticos).
A estória leva algumas reviravoltas mas acaba por se dirigir para onde já todos sabiamos que iria desde o inicio. Até porque Indy sobrevive a isto tudo, pelo menos até aos noventa anos, conforme confirmam as suas memórias durante a série de tv. É agradável ver Spielberg de volta ao cinema de acção, com o respeito que tem pelo público, já fazia falta alguém que voltasse a colocar a técnica ao serviço da narrativa, servido aquela apenas e quando a ultima o justifica. Ainda aqui há que referir a mise-en-scéne que pode parecer bastante básica ao mais cínico dos críticos, mas que de facto, é a indispensável e a unica que cada sequência pede. Uma nota ainda para o CGI do final. É certo que estamos na presença de uma estória de série B, mas será que era absolutamente necessário ter algo tão ranhoso?
Não é A Ultima Cruzada, mas também não é o Templo Perdido, fica ali no meio, sendo um regresso em grande forma de um dos heróis preferidos de toda a gente, atingindo por vezes alguns momentos a recordar para a eternidade (chamo a atenção para toda a cena passada nas areias movediças e as piscadelas de olho a Sean Connery).

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