03 junho 2008

Nem todos somos um Indiana Jones

É o conselho que tenho a dar ao sr. Eddie Murphy. Nos anos oitenta, quando Murphy tinha piada, um dos filmes que o ajudou a tornar-se um nome familiar para o grande publico foi o díptico (ui, ui, palavras caras...) Beverly Hills Cop, que em Portugal recebeu a inspiradíssima tradução de "O Caça-Polícias". O primeiro filme era muito interessante, aproveitando na altura a carreira de Murphy, que se encontrava a descolar, para oferecer um polícia com métodos pouco ortodoxos para apanhar os vilões de serviço depois de estes lhe terem morto o amigo em casa. Simples, directo, sem floreados desnecessários e a mostrar um actor com grande capacidade para o papel que lhe coube, mostranda aí a diferença de actuação das Policias de duas cidades opostas: a rica, educada e limpa Beverly Hills; e a cidade dos trabalhadores de colarinho azul, Detroit. Passados alguns anos surge a sequela. Um pouco o remastigar da fórmula de sucesso do passado, ainda assim com leveza cómica já, no entanto, sem o lado mais negro que havia passado por todo o primeiro filme. Ainda se via bem.
Em 1994 surge a terceira parte. Acho que não andarei muito longe da verdade se classifcar este filme como um dos piores que já tive o desprazer de visionar. WTF?! A certa altura há um cameo de George Lucas num parque de diversões. Parque esse que servia para negócios obscuros, como seria de esperar num filme de policias e ladrões, mas aqui já com demasiada ligeireza no tratamento da estória. O principio do fim da carreira séria de Eddie Murphy, com apenas alguns fogachos desde então, Bowfinger é o exemplo de um Oásis no meio do Deserto.
Agora, 2008, surge a noticia de que vai haver uma quarta parte. Com o nome associado à realização a ser o de Brett Rattner. Sim, esse. O responsável pela magnífica trilogia "Hora de Ponta". Se me dão licença, vou um pouco ali para o canto para ver se me passa a depressão...

02 junho 2008

Mais Indy...

Este ultimo texto foi escrito no seguimento da critica no post anterior. Decidi dividir por duas partes para não "maçar" muito a vista dos caros leitores. Todos os sete...

Afinal o que é Indiana Jones, na sua génese? Uma personagem de homenagem aos Serials de série B que os jovens Steven e George viam na infância. Os Republic Serials, tão referidos nas revistas da especialidade das ultimas semanas não eram mais do que filmes de série B, onde a aventura e a adrenalina era aumentadas ao máximo. Os primeiros três Indiana Jones eram isso mesmo, sem tirar nem por. Aventuras, feitas com muito estilo, onde as emoções ganhavam precedência sobre tudo o resto. Um pormenor, no entanto, a génese está na série B, mas os meios, a forma de contar de estória e mesmo a qualidade dos intérpretes está toda na mais A da série A. Por isso sempre foi relativamente fácil gostar, desde o início de Indiana Jones, porque era interpretado por um grande actor, dirigido por um grande realizador, cujas estórias vinham do dono de uma grande imaginação. Além disto, Indiana Jones apela à infância dos seus espectadores, e aqui está o busílis da questão interpretativa desta ultimo capítulo: parece-me que nos esquecemos da inocência com que encarámos a trilogia original, o olhar cínico do critico de cinema e do jovem adulto com formação superior tem ganho força sobre o olhar da criança que se apaixonou pelas aventuras do Indiana Jones, na década de oitenta. Esta falta de inocência e olhar cínico são bem evidentes nos comentários que se vão encontrando por todo o lado e até nas conversas que se ouvem. É criticada a falta de realismo da cena das cascatas; um pedregulho gigante como armadilha contra intrusos é bem mais fácil de digerir, assim como o salto de UM AVIÃO, DENTRO DE UM BARCO DE BORRACHA PARA UM RIO, ou passar por cima de uma ponte invisível.
Sim, é impossível sobreviver a uma explosão nuclear dentro de um frigorífico, o baloiçar em lianas na selva amazónica pode não ser tão fácil como parece para os iniciados, mas também pode ser pouco provável sobreviver à queda de um tanque para um penhasco, mesmo que se salte segundos antes do momento fatídico. Portanto, talvez seja necessário rever a trilogia original e todos os pormenores que o olhar cansado e habituado a captar as fragilidades de outras cinematografias não captou devido à fascinação da infância não apanhou na altura. Ou então esquecer tudo e apenas pensar que no ecrã gigante está o Indiana Jones, tal como o recordamos de vinte e tal anos...

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008, Steven Spielberg)

O professor Henry Jones Jr acaba de escapar, por pouco, a um encontro com agentes soviéticos no deserto do Nevada. No entanto, após os ter ajudado, sob coacção, a recuperar um artefacto de um armazém no meio do nada, as suas actividades caem sob a alçada investigadora do FBI, sendo suspeito de actividades não-americanas. É aqui que surge “Mutt” Williams, jovem que o recruta para procurar um antigo amigo perdido nas selvas da América do Sul.


Esperava ansiosamente pela estreia de “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”. Sou fã do arqueólogo mais famoso do planeta e aguardava com alguma expectativa o regresso do homem do chapéu e chicote, 19 anos depois. As primeiras críticas, que fui lendo na diagonal para não correr risco de me serem revelados pormenores importantes, davam a sensação que Lucas tinha feito o mesmo que no Episódio A Ameaça Fantasma de Guerra das Estrelas, ou seja, estragado a coisa quase irreversivelmente. Mantive um entusiasmo contido, porque não era Lucas na cadeira de realizador, mas sim Spielberg e, por muitas coisas que o homem seja, ainda acho que mantém um bom senso razoável, mas também porque, caramba: é o Indy! O homem que encontrou a Arca da Aliança, descobriu e derrotou uma seita obscura nos confins da Indía e, last but not least, bebeu do Cálice Sagrado. Tenho uma teoria sobre o porquê desta resistência insana ao mais novo capítulo das aventuras de um dos mais espectaculares heróis de acção de todos os tempos, apesar de ser professor catedrático... Reservo essa teoria para depois da análise ao filme. Era uma tarefa arriscada, recuperar um herói, tendo de actualizar a linha cronológica para que a personagem acompanhasse o envelhecimento natural do actor que lhe dá corpo e rosto. Mesmo em termos de estória a apresentar, seria cada vez mais complicado, porque os tempos de aventura sem rede estavam cada vez mais longe, com os anos 30 a serem apenas uma recordação no retrovisor da Hitória (bonito, hã?). Encontramos agora Indy nos anos 50, época que nos Estados Unidos corresponde a filmes de série B sobre extraterrestres, o “Perigo Vermelho” e o início de convulsões sociais, com os primeiros sons do rock a serem ouvidos. Ao olhar para os primeiros dez minutos de filme podemos marcar um visto em cada uma destas categorias. Os jovens que desafiam o condutor de uma coluna militar para uma pequena corrida, ao som do “Roque”, elementos dessa coluna militar que acabam por se revelar soldados soviéticos em busca de uma determinado artefacto num armazém... Não, não vou revelar, apesar de ser no início do filme, é já relevante para o desenvolvimento da narrativa. E é aqui que começo por falar o ritmo do filme. Alucinante, desde o incio. Cenas de acção bem montadas, com os ângulos bem escolhidos e com o respeito suficiente pelos espectadores para lhes permitir olhar e ver tudo o que se passa no cenário, não cedendo ao estilo de montagem MTV-OLHEM-NÃO-OLHEM-JÁ-PASSOU-QUALQUER-COISA-IMPORTANTE-E-VOCÊS-NÃO-VIRAM. Sim, sr. Michael Bay, era para si...
“Old School”, tal como a deliciosa vilã Irina Spalko (óptimo nome para um vilão) promete no início. No entanto, é nesta personagem de cate Blanchett que começam as falhas do filme. Spalko é uma vilã mal aproveitada, aquele sotaque fantástico (Ucrânia, de acordo com o Dr. Jones) merecia muito mais tempo de ecrã. Há que referir o já anunciado regresso de Marion Ravenwood, outra personagem que merecia ser mais bem aproveitada, nota-se perfeitamente que foi colocada no guião já com o navio a zarpar do cais e apenas por exigência dos fãs. No entanto, é sempre um prazer ver Marion e a forma como Karen Allen e Harrison Ford mantém uma química invejável, mesmo depois de tanto tempo. A personagem destinada a ser aqui o “sidekick” de Indy é claramente Mutt. Shia Laboeuf, aqui a ser apontado como futuro sucessor da série de aventuras à moda antiga, em mais do que uma maneira. Há algo na química entre Indy e Mutt que lembra a dupla Jones, Sr e Jr de A Ultima Cruzada. Não só esse pormenor que já toda a gente sabe, mas com o próprio Indy a replicar expressões utilizadas pelo pai durante a ultima aventura (“Isto é intolerável”, que pormenor delicioso aquando da fuga dos soviéticos).
A estória leva algumas reviravoltas mas acaba por se dirigir para onde já todos sabiamos que iria desde o inicio. Até porque Indy sobrevive a isto tudo, pelo menos até aos noventa anos, conforme confirmam as suas memórias durante a série de tv. É agradável ver Spielberg de volta ao cinema de acção, com o respeito que tem pelo público, já fazia falta alguém que voltasse a colocar a técnica ao serviço da narrativa, servido aquela apenas e quando a ultima o justifica. Ainda aqui há que referir a mise-en-scéne que pode parecer bastante básica ao mais cínico dos críticos, mas que de facto, é a indispensável e a unica que cada sequência pede. Uma nota ainda para o CGI do final. É certo que estamos na presença de uma estória de série B, mas será que era absolutamente necessário ter algo tão ranhoso?
Não é A Ultima Cruzada, mas também não é o Templo Perdido, fica ali no meio, sendo um regresso em grande forma de um dos heróis preferidos de toda a gente, atingindo por vezes alguns momentos a recordar para a eternidade (chamo a atenção para toda a cena passada nas areias movediças e as piscadelas de olho a Sean Connery).

Kevin Smith está de volta

Mantenho que "Perseguindo Amy" é dos melhores filmes sobre o Amor e o sentimento de posse sobre outra pessoa. O primeiro "Clerks" é inovador q.b., retratando através da estética câmara de vigilância o dia de dois empregados de uma loja de conveniência. A partir daá apenas a destacar "Dogma" pela irreverência com que é tratada a mitologia cristã. Mais um punhado de filmes sem nada a acrescentar, mas sempre com aquele estilo de comédia "raunchy" (desculpem, escapa-me a tradução) que tem sido explorada pela equipa de Judd Apatow nos ultimos tempos. Não é então de admirar que o protagonista masculino do seu próximo filme seja Seth Rogen, um dos colaboradores mais próximos de Apatow. O título do filme é "Zack and Miri make a Porno" e é bastante evidente. Zack, ele, e Miri, ela, vão fazer um porno. O teaser em baixo é apenas uma série de improvisações que não estarão no produto final (palavras do próprio Smith) mas que servem para estabelecer um tom ao resto do filme.