18 maio 2008

"Dá-me um whisky, 'tou esfomeado!"

IRON MAN, 2008 (JON FAVREAU)
Tony Stark é um génio. Tony Stark é dono de uma empresa multimilionária. Tony Stark é um Playboy. Tony Stark acaba de se aperceber que as armas que a sua empresa fabrica são usadas contra inocentes e contra o exército norte-americano. Pode parecer a premissa para um filme bélico-moralista com Steven Seagal ou Dolph Lundgren no principal papel, mas Homem de Ferro é muito mais que isso. Para já é a adaptação ao Cinema de um dos heróis de BD da Marvel e, apesar de isso não significar desde já uma caução de qualidade indíscutivel, é um bom principio.
Vejamos então a situaçãop concreta de Stark: Playboy multimilionário, dono de uma empresa de armamento e génio da invenção. É capturado no Afeganistão por um grupo terrorista e vê como as armas que constrói são utilizadas pelos inimigos que deveriam combater. A partir daqui algo se altera na sua consciência, Stark passa a querer um mundo mais justo. Como já escrevi em cima, este momento narrativo poderia deitar todo o filme a perder, ao transformar esta película naquilo que tanto odiamos, “o filme que tenta ser mais do que é”, sentença por vezes atirada a torto e a direito quando não temos muito mais para dizer mas não queremos deixar de passar a ideia de quem percebe muito disto. Aqui o realizador tem a perfeita consciência que está a trabalhar num filme baseado num comic-book e, apesar de ter este ponto do “lutar pelo lado correcto” e “a experiência alteradora da percepção exterior”, que já estava no material de origem, Iron Man nunca deixa de ser um objecto de entretenimento, consciente que tem de apelar à boa disposição do publico, cativá-lo para gerar uma empatia com as personagens principais e, acima de tudo, ter aqueles picos de acção tão comuns ao blockbuster de origem norte-americana.
Os heróis da Marvel são personagens torturadas, empurradas para situações desagradáveis que não desejavam. Tony Stark pretendia apenas continuar o seu estilo de vida bon-vivant mas tem uma coisa que o incomoda, uma consciência. Como consumidor adolescente dos comics da Marvel, esta característica parece-me comum à grande maioria das criações desta marca. Se repararmos nos heróis mais emblemáticos já passados ao ecrã (Homem-Aranha; X-Men), são sobretudos pobres coitados que se metem em algo que os ultrapassa, torturados por emoções bem humanas, ou têm capacidades que os obrigam a tomar atitudes para corrigir injustiças, fruto de uma moral que todos gostaríamos de seguir e encaramos com aquilo que é correcto (os mais fortes protegem os mais fracos). Quando se fala em “filme de super-heróis realista”, penso que terá de ser por este lado que temos de procurar o realismo. Não por um uso de efeitos visuais que pareça mais próximo daquilo que encontramos do dia-a-dia ou por uma fuga ao Fantástico como elemento visual, mas por um desenvolvimento de personagens humanas, com quem o espectador se possa relacionar. Afinal de contas, quem não se identifica os problemas do estudante Peter Parker enquanto pobre coitado a quem a míuda dos seus sonhos não presta a devida atenção.
Voltando ao filme que me motivou a escrever este texto, é inevitável no entanto, não enaltecer o grande trabalho visual da equipa de produção de Homem de Ferro. É dificil não aceitar a maior parte dos efeitos visuais, apesar da sua grande dose de espectacularidade, como algo de orgânico, algo autêntico, que poderia muito bem acontecer no “mundo real”. O senão deste ultimo ponto é a grande batalha final entre os dois antagonistas mas, não se pode ter tudo...
Downey Jr é Tony Stark e pode dizer-se que é muito bem aproveitado para este papel, com a sua própria experiência como alcoólico e dependente de drogas a valer-lhe para encarnar a face mais séria de Stark, mas também para personificar a parte mais festeira da personagem. Parte festeira que dura apenas alguns minutos, depois de uma decisão de montagem muito inteligente de Jon Favreau. O realizador agarra o espectador pelos colarinhos logo no inicio da película, mostrando primeiro a captura de Stark pelo grupo terrorista e só depois mostrando em flashback aquilo que era a vida do multimilionário.
É um bom início para a época de Blockbusters deste ano, apesar de não atingir o nível, em termos de filmes de super-heróis, de um Homem-Aranha 2, este sim, o valor pelo qual se medem todas as aventuras dos quadradinhos transpostas ao grande ecrã.

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