31 maio 2008

Por falar em Coens...

Voltam a trabalhar com JK Simmons, George Clooney, Frances Mcdormand et al em Burn After Reading, onde um "pintas" encontra um cd com material ultra-secreto no ginásio onde trabalha. Por este trailer vemos que pode estar aqui um grande papel para Brad Pitt, e um regresso ao tom de comédia fora do normal que trouxe reconhecimento a Joel e Ethan.

Aceitam-se apostas quanto à tradução inspirada que o título deve levar: Negócios Secretos é o meu favorito...
Já agora: "Report back to me when... when it makes sense!" é bastante citável.

Personagens de uma vida I

Há personagens na carreira de um actor que valem por filmes inteiros. Frases inesquecíveis, um penteado arrojado, a colaboração com o tal realizador que correu bem. Para John Turturro, essa personagem é talvez Jesus Quintana, criação partilhada com os Irmãos Coen em "The Big Lebowski". Jesus Quintana tem cerca de 5 minutos de ecrã em todo o filme, pouquíssimos diálogos que, quando tem, são apenas dirigidos, e existem em função de, Jeffrey Lebowski e a sua equipa de bowling. Jesus Quintana é, no fundo apenas e só, uma personagem ultra-secundária, sem qualquer peso na narrativa do filme, existindo apenas para criar uma vida, além daquela descrita nas peripécias da narrativa, à personagem principal Lebowski. No entanto, apesar de ser apenas "papel de parede" ao resto da estória, funcionando como cola para todo aquele mundo, é uma das personagens inesquecíveis do Cinema e, concerteza, inveja de muitos actores. O segredo para este sucesso? Turturro, John Turturro. Excelente actor, capaz de se transfigurar para cada papel que interpreta, aqui todo ele se transforma no latino Quintana, criatura que me parece incapaz de existir fora do Universo dos Coen. Desde o fato-macaco roxo, ao rabo-de-cavalo devidamente protegido pela rede, a unha do dedo mindinho, a profusão de aneís, é todo um conjunto de signos que nos apresenta a personagem e nos dá a conhecer um estilo que pode ser interpretado como desviante do normal, ainda antes de abrir a boca ou nos ser dada alguma história sobre a sua vida passada. Por tudo isto, Jesus Quintana vai ser uma das criações pelas quais iremos recordar John Turturro, muito depois dele ter desaparecido, esperamos que daqui a muito tempo.

18 maio 2008

Ele vem aí...

"It's good pie"

MY BLUEBERRY NIGHTS, 2008 - WONG-KAR WAI
Começo este texto por dizer que não conheço a obra anterior de Wong-Kar Wai. Nem sei se é assim que se escrever o nome dele. Agora que já pus toda a gente desse lado a pedir um auto-de-fé à minha pessoa e a ditar sentenças inteligentes do tipo: “só vê vê cinema americano, é só comercial que lhe interessa, nem sequer sabe quem é o grande cineasta experimental romeno Nkinof Andriu”, servindo isto como caução para toda a gente que quer falar sobre Cinema e não sobre filmes...
Pois bem, voltando a Wong-Kar Wai, escrevi no inicio que não conheço a obra deste realizador, no entanto, o zum-zum que o rodeia em todas as revistas da especialidade e sites dedicados ao cinema levaram-me a querer ver por mim próprio o porquê de tão boas indicações.
Comecemos então por falar do filme. Elizabeth é uma jovem cuja sorte ao Amor lhe parece ter escapado. Depois de uma separação tumultuosa, acaba por passar as noites num café, a comer tarte de mirtilo e a falar sobre a Vida, o Amor e Tudo o Mais com o gerente, também ele esquecido por Cupido algures no grande percurso da Humanidade. Uma noite, Elizabeth parte. Faz uma grande viagem por toda a América onde encontra outras personagens também desgostosas com a sorte que o Amor lhes reservou e acaba também por se encontrar a si própria.
Este filme tinha muito para falhar. Primeira incursão no Cinema de uma cantora (essas coisas não costumam resultar muito bem) e como co-protagonista Jude Law (também conhecido como Michael Caine Wannabee). No entanto é mesmo este par que acaba por surpreender e oferecer algumas das melhores cenas do filme. De facto, é o rapport que ambos os actores conseguem estabelecer um dos pontos fortes a destacar nesta primeira incursão de Wong no cinema falado em inglês. Law e Jones apresentam-se aqui como grandes surpresas, ele por contrariar o estereótipo de ser apenas uma cara bonita e conseguir impressionar como ex-maratonista que decidiu deixar de correr até que alguém o apanhe e ela, que, sendo esta a primeira viagem ao mundo do cinema, consegue disfarçar muito bem potenciais falhas. É verdade que a câmara gosta muito de Norah Jones, basta comprovar vendo alguns dos clips das musicas da filha de Ravi Shankar.
O estilo filmico de Wong é qualquer coisa. De notar a tentativa de colocar o espectador no lugar de voyeur nas cenas passadas em Nova iorque, sempre com algo entre a objectiva e os dois protagonistas no interior do café. Aqui também a referir o enorme vigor cromático que o realizador empresta a cada plano, quase como se Nova Iorque fosse uma versão ocidentalizada de Hong Kong, plena de neons e vermelho escarlate. Deliciosa também a brincadeira com a câmara de vigilância do café, que de acordo com a personagem de Jude Law, se “tem sentido mal”, enquanto nos coloca nesse preciso ponto de vista. Querem melhor reflexão sobre os males que afectam o mundo do um simples “mal-estar” que nos faz ver a imagem desfocada e tremida, sem nos conseguirmos focar naquilo que verdadeiramente importa.
Este não é, no entanto, um filme de apenas dois actores. Há também que falar de de David Strathairn, Natalie Portman e Rachel Weisz. Se de Weisz já só esperamos o melhor, aqui a interpretar muito bem a variação do amor ainda adolescente, que terá surgido porventura demasiado cedo e, desse modo, não pode ser devidamente apreciado, Strathairn começa a revelar como um dos actores americanos mais sólidos dos últimos anos. Aqui interpreta o desgosto, a dificuldade em largar aquilo que já não nos quer. É a auto-destruição em forma lenta, sempre um dia mais próximo do fim, sempre a tentar a redenção onde ela não existe. Já Natalie Portman é aqui a personagem menos aproveitada e, porventura, mesmo mais irritante. É a menina mimada que faz de tudo para ter a atenção do pai, mesmo quando não a consegue da maneira que pretende.
Visualmente brilhante, interpretações também acima da média, My Blueberry Nights destaca-se do resto da manada fílmica também pelo enorme cuidado com a direcção artística (delicioso, o vaso onde Law guarda as chaves) e com o som do filme. E sim, quero ver mais filmes com Norah Jones, a câmara gosta dela e isso é meio caminho andado, mas com mais algum trabalho pode estar ali mais uma boa actriz.

"Dá-me um whisky, 'tou esfomeado!"

IRON MAN, 2008 (JON FAVREAU)
Tony Stark é um génio. Tony Stark é dono de uma empresa multimilionária. Tony Stark é um Playboy. Tony Stark acaba de se aperceber que as armas que a sua empresa fabrica são usadas contra inocentes e contra o exército norte-americano. Pode parecer a premissa para um filme bélico-moralista com Steven Seagal ou Dolph Lundgren no principal papel, mas Homem de Ferro é muito mais que isso. Para já é a adaptação ao Cinema de um dos heróis de BD da Marvel e, apesar de isso não significar desde já uma caução de qualidade indíscutivel, é um bom principio.
Vejamos então a situaçãop concreta de Stark: Playboy multimilionário, dono de uma empresa de armamento e génio da invenção. É capturado no Afeganistão por um grupo terrorista e vê como as armas que constrói são utilizadas pelos inimigos que deveriam combater. A partir daqui algo se altera na sua consciência, Stark passa a querer um mundo mais justo. Como já escrevi em cima, este momento narrativo poderia deitar todo o filme a perder, ao transformar esta película naquilo que tanto odiamos, “o filme que tenta ser mais do que é”, sentença por vezes atirada a torto e a direito quando não temos muito mais para dizer mas não queremos deixar de passar a ideia de quem percebe muito disto. Aqui o realizador tem a perfeita consciência que está a trabalhar num filme baseado num comic-book e, apesar de ter este ponto do “lutar pelo lado correcto” e “a experiência alteradora da percepção exterior”, que já estava no material de origem, Iron Man nunca deixa de ser um objecto de entretenimento, consciente que tem de apelar à boa disposição do publico, cativá-lo para gerar uma empatia com as personagens principais e, acima de tudo, ter aqueles picos de acção tão comuns ao blockbuster de origem norte-americana.
Os heróis da Marvel são personagens torturadas, empurradas para situações desagradáveis que não desejavam. Tony Stark pretendia apenas continuar o seu estilo de vida bon-vivant mas tem uma coisa que o incomoda, uma consciência. Como consumidor adolescente dos comics da Marvel, esta característica parece-me comum à grande maioria das criações desta marca. Se repararmos nos heróis mais emblemáticos já passados ao ecrã (Homem-Aranha; X-Men), são sobretudos pobres coitados que se metem em algo que os ultrapassa, torturados por emoções bem humanas, ou têm capacidades que os obrigam a tomar atitudes para corrigir injustiças, fruto de uma moral que todos gostaríamos de seguir e encaramos com aquilo que é correcto (os mais fortes protegem os mais fracos). Quando se fala em “filme de super-heróis realista”, penso que terá de ser por este lado que temos de procurar o realismo. Não por um uso de efeitos visuais que pareça mais próximo daquilo que encontramos do dia-a-dia ou por uma fuga ao Fantástico como elemento visual, mas por um desenvolvimento de personagens humanas, com quem o espectador se possa relacionar. Afinal de contas, quem não se identifica os problemas do estudante Peter Parker enquanto pobre coitado a quem a míuda dos seus sonhos não presta a devida atenção.
Voltando ao filme que me motivou a escrever este texto, é inevitável no entanto, não enaltecer o grande trabalho visual da equipa de produção de Homem de Ferro. É dificil não aceitar a maior parte dos efeitos visuais, apesar da sua grande dose de espectacularidade, como algo de orgânico, algo autêntico, que poderia muito bem acontecer no “mundo real”. O senão deste ultimo ponto é a grande batalha final entre os dois antagonistas mas, não se pode ter tudo...
Downey Jr é Tony Stark e pode dizer-se que é muito bem aproveitado para este papel, com a sua própria experiência como alcoólico e dependente de drogas a valer-lhe para encarnar a face mais séria de Stark, mas também para personificar a parte mais festeira da personagem. Parte festeira que dura apenas alguns minutos, depois de uma decisão de montagem muito inteligente de Jon Favreau. O realizador agarra o espectador pelos colarinhos logo no inicio da película, mostrando primeiro a captura de Stark pelo grupo terrorista e só depois mostrando em flashback aquilo que era a vida do multimilionário.
É um bom início para a época de Blockbusters deste ano, apesar de não atingir o nível, em termos de filmes de super-heróis, de um Homem-Aranha 2, este sim, o valor pelo qual se medem todas as aventuras dos quadradinhos transpostas ao grande ecrã.

07 maio 2008

Pornografia sueca e a invenção do Alley-Oop*

Quais são as expectativas que se devem alimentar quando se vê um filme com Will Ferrel? Concerteza que não haverá grande profundidade psicológica, um realizador com rasgo criativo que nos surpreenda a cada plano, um avanço significativo no campo da Arte Cinematográfica. Não, não há nada disto, mas pode ser divertido.
Jackie Moon é o proprietário/treinador/jogador-estrela dos Flint Tropics, equipa da defunta American Basketball Association. Quando é informado de que a ABA se vai fundir com a NBA no final da época, mas apenas as quatro melhores equipas, Jackie tenta de tudo para que os seus Tropics sejam um dos afortunados. “One-Hit Wonder” com “Love me sexy” (procurem o clip no Youtube, ele existe), Moon tenta de tudo para levar a sua equipa à bonança financeira e reconhecimento social que lha augura a NBA.
Semi-Pro acaba por andar naquela linha ténue que a comédia traça entre o desconforto e o gag certeiro: algumas piadas falham, mas as que acertam correm o risco de se tornar coloquialismos recorrentes, como a confissão do comentador Lou Redwood (excelente Will Arnett) que só sobreviveu ao Vietname graças à pornografia sueca.
Primeira aventura de Kent Alterman na realização, mostra algumas ideias interessantes mas no geral acaba por apenas se manter pela mediania, deixando o campo livre para que Ferrel e companhia possam brilhar. Não é Monty Python mas também não se cola muito à onda de comédias imbecis que vemos regularmente a atracar nos cinemas (são facilmente identificáveis, têm normalmente “movie” no título original ou são remastigações de outras obras). Semi-Pro descende da linha Saturday Nught Live da comédia americana, o que tanto pode ser bom como mau. Neste caso, fica ali no meio.
P.S.- Péssimo trabalho de tradução, que chega a confundir as regras mais básicas do basket: “travelling” não é a “regra dos 5 segundos”.

*Texto publicado no Jornal Universitário A Cabra

Voltando ao registo "Olhem as coisas bonitas que ando a fazer..."

Tenho isto para vos mostrar:

"Cabaret"




Estas são ainda dos ensaios, a seguir vêm as do espectáculo:




Inserido na Semana das Artes 2008, apresentado no Centro Cultural e Académico D. Dinis. Um sucesso entre as cerca de 100 pessoas que estavam na sala, algumas mesmo sentadas no chão.