28 fevereiro 2008

Rescaldo

Tentei a experiência de LiveBlogging enquanto acompanhava a emissão dos Óscares para a RUC. Provou-se uma tarefa dificil e mesmo quase herculea de conseguir, uma vez que tinha de bloggar enquanto mandava um ou outro comentário mais ou menos acertado em directo e ainda pensar em algo inteligente para escrever. Ao mesmo tempo que fazia isto tudo tinha ainda de ouvir o Sr. Jon Stewart e alhear-me dos comentários da TVI. Pouco prático e dificil de manter ainda para mais tendo de me articular com mais cinco pessoas em estudio. Por isso, mas também porque fiquei um pouco desiludido com a "não-vitória" do PT Anderson, só agora analiso com um pouco mais de pormenor o que se passou na madrugada de segunda-feira.
A cerimónia foi fraca. Em tudo. Longa, sem chama e com números musicais que só afastavam quem quer que tivesse o mais pequeno bom gosto sonoro. Os vencedores foram mais ou menos previsiveis. (Entre os os manos Coen ou Anderson, um deles iria ganhar com toda a certeza) e nem a habitual surpresa do clip inicial esteve presente este ano, concerteza ainda uma sequela da greve dos guionistas que terminou uma semana e meia antes da cerimónia. Os já habituais clips de montagens de filmes e/ou performances do passado não deixaram de marcar a sua enfadonha presença e, para culminar o suplicio, alguém se lembrou de por lá a Celine Dion a cantar o "My heart will go on", para gáudio do publico feminino que atravesssava uma fase estranha da adolescência no final da década de noventa. Como resultado? A cerimónia com menor numero de especatdores desde que se fazem medições de audiência nos Estados Unidos. Em Portugal foi a segunda mais vista desde o ano 2000.
A salvar isto tudo? Jon Stewart, em grande forma como vem sendo habitual. O comediante repetiu este ano a presença como mestre de cerimónias na mais mediática entrega de prémios do mundo do cinema e é capaz de ser mesmo o que de mais memorável fica da edição número 80 dos Oscares. Satírico como poucos, capaz de espicaçar os hollywoodescos egos da plateia com punchlines e improvisações que Ellen Degeneres, por mais simpática que seja, simplesmente não consegue debitar. Fica na memória o momento mais irreverente dos ultimos anos: Stewart a recuperar para o palco a vencedora da categoria de canção original para que esta pudesse fazer um agradecimento em condições, sem a orquestra a interromper o momento emocional da irlandesa de cujo nome já me esqueci.
Quanto aos vencedores, nada a apontar. Tinha esperanças que Haverá Sangue e Paul Thomas Anderson fossem os grandes vencedores da noite, mas os Oscares não ficam mal entregues aos Coen. Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento Adaptado foram as categorias entregues por causa de Este País não é Para Velhos. Raramente nas cerimónias que tenho acompanhado nos ultimos anos tenho visto filmes tão bons, e com iguais hipóteses de vencer, nomeados nas mesmas categorias. Diablo Cody venceu a categoria de melhor argumento adaptado por Juno, com toda a justiça e sem qualquer surpresa, era a mais forte candidata do lote deste ano. Nos actores não houve também qualquer surpresa de monta. Daniel Day-Lewis e Marion Cotillard eram os vencedores anunciados, Javier Bardem não dava qualquer hipótese à concorrência, aquele Anton Chigurh é das personagens mais marcantes que já se passaram por ecrans nos ultimos anos. A semi-surpresa terá sido mesmo Tilda Swinton, a levar o unico Oscar para Michael Clayton, o grande derrotado da noite, ultrapassando Cate Blanchett que parecia ter o homenzinho dourado no bolso pelo seu retrato de Bob Dylan.
Resta ainda ressalvar a grande injustiça deste ano: Jonnhy Greenwood. Não foi sequer nomeado para Banda Sonora Original pelo seu trabalho em Haverá Sangue porque usa Samples de uma obra de Brahms e material próprio gravado anteriormente para outros efeitos. Assim sendo, a vitória coube ao agradável e inventivo, no entanto mais académico, Dario Marianelli por Expiação.
Cá nos encontraremos no próximo ano.

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