Andava a “fazer uma espera” a este filme há já algum tempo. Desde o momento em que soube que PT Anderson iria voltar a filmar e, ainda para mais, com Daniel Day-Lewis no principal papel. O trailer elevava ainda mais as expectativas de quem esperava uma obra do mesmo realizador de Magnolia, Boogie Nights e Punch Drunk Love. Afinal, PT Anderson estava sem filmar desde 2002 e o mundo era um local mais pobre com a sua ausência.

Mas comecemos a tratar do filme. Haverá Sangue apresenta-nos a estória de Daniel Plainview, prospector de petróleo numa América em mudança na viragem do século XX para o século XX. Sem escrupulos, ambição desmedida e sem qualquer problema em mentir ou enganar quem quer que seja para obter aquilo que pretende. É uma estória tipicamente americana, com o valor pessoal da personagem central a ser retratado ao longo do filme. Mas afinal que valor é este? Não andarei muito longe da verdade se disser que Daniel Plainview é das personagens apresenta maior rudez e falta de ligação ou empatia com qualquer outro mortal que se lhe atravesse no caminho que alguma vez povoaram um ecran. É Day-Lewis quem tem a tarefa de construir esta personagem que nas mãos de um realizador menor seria odiável mas que aqui não podemos deixar de sentir algum afecto. Talvez pelos planos inicias, vemos a luta solitária de Plainview no interior de um mina, a forma como supera um acidente para se transportar à cidade mais próxima. A partir deste momento, logo no inicio do filme, temos o mapa da personagem traçado. Infatigável, incansável, capaz de anular a dor física para atingir objectivos. O que pode conseguir alguém com estas características? Tudo.
O trabalho de actores é notável neste filme. É óbvio falar na composição de Day-Lewis, mostrando a cada olhar a ebulição de ódio e desprezo no interior de Daniel Plainview, mas é de referir também o jovem Paul Dano. Em nada fica atrás de Day-Lewis, interpretando um pastor fundamentalista, fundador da Igreja da Terceira Revelação, assumindo-se como curador e veículo para a palavra de Deus. Notável como consegue fazer frente a Day-Lewis em cada cena onde se cruzam , notando também uma grande química entre os dois actores a que não deve ser alheio de PT Anderson como realizador. É fácil ignorar esta interpretação, classificando-a como “menor” face ao outro “monstro” presente no ecran, mas Eli Sunday é um “monstro” diferente. Faz-se valer e atinge os seus objectivos com as armas contrárias de Plainview. Usa a palavra doce e o olhar meigo onde o prospector é rude e curto no trato. Os dois juntos na mesma cena ofuscam qualquer actor que tenha o azar de estar por perto.
PT Anderson não teve o dinheiro que queria para este filme, o que me faz perguntar: o que faria ele se tivesse? É notória ausência de gruas ou outros mecanismos para movimentar a câmara de um lado para o outro (a steady-cam é presença nos locais onde é necessária, mas além disso pouco mais)

Diferente de Magnolia, Boogie Nights, Punch Drunk Love e, no entanto, mantém a mesma ligação umbilical com os trabalhos anteriores de Anderson. Todos se debruçam sobre a figura humana, seja para analisar o poder do Amor, a decadência da extrema riqueza conseguida com pouco esforço ou a necessidade desesperante de uma ligação com mais alguém. Aqui Anderson mostra-nos o lado lunar de uma alma humana, ao mesmo tempo que inscreve o seu nome na restrita lista dos cineastas que podem ser considerados Génios. Pode não ser um Citizen Kane, mas anda lá perto com toda a certeza.
Sem comentários:
Enviar um comentário