07 fevereiro 2008

Cloverfield (2008), Matt Reeves

Um Monstro do tamanho de um arranha-céus ataca Nova Iorque. Pessoas correm. Pessoas morrem. Pessoas são salvas (algumas).

Cloverfield esteve envolvido numa névoa de mistério até bem perto da sua estreia. Tudo para que os “habitantes da internet” tivessem algo para fazer enquanto o mais recente patch para o Warcraft não ficava disponível. Na verdade foi isto que aconteceu: O trailer apareceu antes da exibição do Transformers apenas com a data de estreia e o nome do produtor, JJ Abrams. Para muitos dos fãs de Alias e Lost, o nome JJ Abrams envolvido num projecto cinematográfico com explosões, gente a correr e um mistério por resolver deve ser o equivalente a uma noite de sexo louco com a Gisele Bundchen, Scarlett Johansson e Soraia Chaves. Ao mesmo tempo. O secretismo que envolveu a produção e mesmo a campanha de marketing viral é o grande segredo para o sucesso do filme. De outra forma, Cloverfield seria visto como aquilo que realmente é: Uma cópia de outros filmes do género, com o twist de vermos a acção através de uma câmara encontrada depois de os factos documentados terem ocorrido. Mas espera aí, onde é que eu já também vi isto? Ah pois, Blair Witch. E quem é que ainda fala de Blair Witch como um grande momento da história do Cinema? Nínguem? Precisamente. Acho que posso resumir este filme numa frase: Godzilla “meets” Blair Witch como se tivesse sido realizado por um Michael Mann epiléptico. Com o devido respeito ao sr. Mann...
Mas agora que já tratei de destruir de forma gratuita o filme, acho que posso falar de aspectos concretos.
Começamos por ver imagens gravadas anteriormente, de dois protagonistas, que nos estabelecem um passado idílico, e que voltarão ao ecrã sempre que for necessário estabelecer uma ligação romântica entre os dois (já que os actores não o conseguem fazer sozinhos). Depois saltamos imediatamente para a festa de despedida de um deles que acaba de arranjar um emprego no Japão. Durante esta festa conhecemos algumas das pessoas mais vazias que já habitaram uma tela de cinema. Nada a dizer, perfis de MySpace com pernas como diz o Peter Travers, uma inanidade atrás de outra. Até que por fim aparece o Monstro. Ou melhor, ouvimos o roncar poderoso dele. E quão poderoso é. Mas quando tinhamos passado os ultimos dez minutos num estado de sonolência induzido pela profundidade de diálogos anteriores, qualquer coisa nos acordava. Segue-se explosão-pessoas a correr-destruição-mimetização da paisagem urbana de NY a 11 de Setembro de 2001. Abrams disse que pretendia exorcizar alguns dos fantasmas do 11 de Setembro com este filme, pelo menos consegue imitar muito bem as imagens das cadeias informativas nesse dia e o efeito é realista, assim como o desnorteio das personagens principais face a algo que ataca a cidade e que não conseguem identificar.

A partir daqui Cloverfield assemelha-se mais a um Survival do que a um Monster Movie. É certo que o monstro está lá, convenientemente escondido pela noite e por alguns prédios, deixando o espaço para a imaginação dos espectadores trabalhar, mas a estória que seguimos é a de quatro personagens que correm para se salvar e a outra que está presa num prédio. Nesta corrida pela vida, Cloverfield convida-nos a entrar na aventura, quase na primeira pessoa uma vez que o olho da câmara nos projecta o que vemos na tela, mas o positivo esgota-se aqui. Se é verdade que mantém um ritmo elevado, também é verdade que o mantém à custa de uma pirotecnia exagerada, manipulando as emoções do espectador quando convém lembrar uma ligação romântica pouco credível e agitando a câmara de um lado para o outro, atingindo o nível da náusea muito cedo. É certo que este trabalho de câmara é propositado e atribui realismo à coisa, mas há limites para aquilo que estou disposto a aguentar numa sala de cinema.

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