Real: Doug Lefler
Com: Colin Firth, Ben Kingsley, Aishwarya Rai, Thomas Sangster
EUA, Reino Unido, França, Cor, 110 min.
Há uma coisa que me irrita mais que um filme mau: um filme mau que poderia ter sido bom. É o caso. À partida, sabendo que o argumento tinha sido baseado na obra de um professor de arqueologia clássica, as expectativas já eram bastante boas: “ena, o tipo que escreveu o livro em que se baseia o filme percebe do assunto! E é italiano!”. Sim, é verdade. Chama-se Valerio Massimo Manfredi e a obra em causa tem o mesmo nome do filme. Mais expectativas: o Colin Firth até é bom actor. E, caramba, tem o Ben Kingsley! Depois o balde de àgua fria quando pesquiso o nome do realizador para dar um bocadinho mais de sumo no programa de rádio... Tem experiência em televisão... Em séries como “Xena- Princesa Guerreira” e “Hércules”... A única longa-metragem que realizou saiu directa para vídeo e era uma sequela do “Coração de Dragão”... E sim, a experiência televisiva faz-se notar e de que maneira! Até o estilo de comédia da séries que referi em cima pode ser encontrado de uma forma mais subtil.
Isto era o que sabia antes de ver o próprio filme e decidi mesmo dirigir-me à sala, convencido com o aspecto aceitável do trailer.
A primeira coisa a saltar à vista é a banda-sonora. Não, não me enganei, a banda sonora deste filme chega a ser irritante dada a aparente necessidade sentida pelo realizador de pontuar 90% das cenas com música. Não devo errar em muito a percentagem e chega a ser angustiante ter de aguentar tanta musica quando a ausência da trilha sonora podia servir muito melhor para acentuar e aumentar a intensidade dramática de várias cenas. Colin Firth e Ben Kingsley não são nomes habituais em épicos ou no cinema peplum e têm performances distintas. (apesar de já não estarmos no espectro temporal da Antiguidade Clássica, tudo o que tenha Romanos é normalmente classificado como Peplum: reclamações para o mail do costume). Firth aproveita as poucas linhas de diálogo com que todas as personagens são brindadas para agarrar bem o papel de Comandante em busca do fim das mortes mas disposto a uma ultima batalha para cumprir o juramento sagrado. Já Kingsley... é Kingsley! Admitamos: Ben Kingsley não tem grande carisma. É um óptimo actor, mas não consegue que os espectadores gostem dele apenas porque sim. Recordo para este efeito “House of sand and fog” e a performance fantástica que obriga o espectador a sentir a dor daquela personagem, mas o magnetismo que leva o publico a querer o sucesso daquela personagem não é o forte dele. Neste filme, para piorar o cenário, o argumento não o ajuda em nada e a sua personagem tem o carisma de um carapau congelado. Portanto, alguns bons actores e outros que deixam algo a desejar, com o destaque a cair direitinho para os Godos que tomam a capital do Império.
Referi no início o autor do livro e a credibilidade que lhe é conferida pelo seu estatuto profissional. Pois bem, este material é muito raramente aproveitado para o Cinema, a queda do Império Romano, e tem potencial pois é uma boa oportunidade para dar ao público o final da grandiosidade transmitida em outros filmes do género. Um pouco o final da festa que se viu em clássicos como “Ben-Hur”, “Spartacus” ou mesmo o mais recente “Gladiador”. Não duvido do potencial que poderá estar incluído no livro, até porque de acordo com os créditos finais, este filme é baseado apenas em “parte da obra”, no entanto não é díficil notar uma certa espiral de qualidade descendente até ao final do filme, com os diálogos a tornarem-se ainda piores do que já eram e com a grande batalha final a ter um final absolutamente ridículo...
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