03 fevereiro 2007

Marionetes como nós


“Da Vida das Marionetes”
1980; Alemanha Federal, Suécia; 104min; Cor, Preto e Branco
Real: Ingmar Bergman
Com: Robert Atzom, Martin Benrath, Christine Buchegger.



Peter Egermann vive atormentado por um mesmo sonho. Nesse sonho ele sente uma vontade indomável de matar a mulher; perturbado por este desejo consulta o seu amigo psiquiatra Mogens Jensen, mas este não é capaz de o ajudar de forma satisfatória...

O que dizer deste filme? Não sinto que lhe consiga fazer justiça por mais que escreva ou fale sobre ele. Por isso mesmo deixo, antes que comecem a ler, e desde já, a recomendação: procurem-no, vejam com atenção, e disposição, porque não é um filme “fácil”.


Agora que já tratei do “disclaimer” posso avançar com uma pequena reflexão.
Quem são as “Marionetes” do título? Uma breve reflexão sobre os momentos crucias deste filme leva-nos a uma conclusão: Todos nós. Manipulados pelos nossos medos, contradições e obsessões, assim se movem as personagens deste filme de Bergman, fazendo a ponte para as obsessões e receios de toda a Humanidade. Usando apenas três personagens, uma delas nem sequer central, mas essencial para o desenlace inicial/final (já explico), Bergman consegue retratar os pensamentos recorrentes mais escuros e perturbantes da Humanidade.

Medo, Obsessão, Contradição e Conflito Interno. São estas as sensações que perpassam da película para o espectador. Egermann vive atormentado com o desejo de matar a mulher mas, os sentimentos que tem por ela e o sentido de responsabilidade e decência imposto por uma educação Ocidental impede-o de o fazer. Tim, o companheiro homossexual de trabalho da esposa de Egermann vive apavorado com a decadência imposta pelos anos e em eterno conflito interno por desejar conforto e apoio emocional, mas passar as noites em bares a engatar tudo o que mexe.
Porquê inicial/final, o desenlace? Pela escolha do cineasta em nos apresentar a estória numa sequência temporal não linear, com prólogo e epílogo, e tendo no meio os eventos que precedem e pós cedem esse evento central, que não vou revelar. A destacar a escolha pela cor nesse mesmo evento central e o preto e branco no miolo do filme. Não posso também deixar de referir o minimalismo absoluto que é escolhido para mostrar o sonho de Egermann ao espectador, destacando-se aqui a beleza do branco-vazio que abraça os dois corpos e centra toda a atenção do espectador nas personagens e na sensação de desespero que transpira da interpretação de Robert Atzom (Egermann).
p.s.- Desculpem não encontrar imagens maiores, mas arrebanhar estas já foi uma sorte...

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