03 fevereiro 2007





“Bobby”
2006; EUA; Cor
Real: Emílio Estevez
Com: (decidi não colocar nenhum nome aqui porque não há neste filme um actor que se possa considere como principal)


No dia 6 de Junho de 1968 decidia-se quem seria o candidato presidencial pelo Partido Democrata às eleições do mesmo ano. Robert Kennedy foi assassinado nesse dia.


Tudo estaria bem com o Mundo. Fome, Guerra, Miséria, Pobreza, tudo isto teria terminado caso Bobby Kennedy fosse presidente dos Estados Unidos. É a mensagem ingénua que escorre de todos os fotogramas deste filme. O carácter messiânico com que o na altura senador norte-americano é retratado. Mas antes de começar antes de falar do que está mal, vou falar do que está bem.


Antes de iniciar o visionamento do filme fiquei a saber que a personagem que dá o nome ao filme seria interpretada por... O Próprio, através de imagens de arquivo. Pensei: “Provoca um efeito engraçado, diz que o filme é sobre determinada pessoa mas nunca a apresenta em carne e osso, interpretada por outra pessoa.”. O filme inicia-se com uma contextualização sócio-política dos Estados Unidos através de mais imagens de arquivo. Pensei: “Boa, um biopic que retrata não só a vida de uma personalidade publica, como também o contexto social que a motivava”.


A partir daqui foi o descalabro...


O que salta, literalmente, à vista é a péssima qualidade da fotografia, não só desfoca o restante cenário quando o realizador pretende evidenciar um objecto em primeiro plano, como também nos presenteia com uma amálgama de cores e movimentos indefinidos de vultos quando a câmara se movimenta a uma velocidade maior.
Emílio Estevez (que além de realizar,é também responsável pelo argumento) pretendia criar uma espécie de filme-mosaico, mas peca por excesso. Vinte e duas personagens, de facto, parece, e é, demais. Com tantas histórias para contar, o efeito óbvio acontece: O filme torna-se lento, e logo nos primeiros dez minutos. Existe ainda outro efeito consequente do excesso de personagens apresentadas num curto espaço de tempo: Não permite que o espectador se relacione directamente com nenhuma delas. Este efeito é evitável e a prova é “Magnólia” (PT Anderson, 1999).


Não nego que Bobby Kennedy fosse uma figura que transmitisse confiança e inspirasse muitos norte-americanos, mas já me parece forçado que todas as personagens deste filme assim o sejam... De facto, são muitos momentos em que uma determinada figura parece ter uma epifania, descobre o sentido da vida, e tem de o partilhar com os que a rodeiam... E sempre com banda sonora suave por baixo... Muito forçado.


Lembram-se do título do filme? E já repararam na campanha publicitária centrada na imagem de Bobby Kennedy? Isto leva o mais inocente dos espectadores a pensar que é um filme sobre o próprio assassinado que vamos ver. OK, ele só aparece em imagens de arquivo mas, “wishfull thinking”, mesmo assim será com as pessoas mais próximas dele, um director de campanha, um speech-writer, um conselheiro político... Nada mais falso. As vinte e duas personagens de que já falei têm todas uma coisa em comum: Estão no mesmo Hotel à hora em que são disparados os tiros. Se, em abono da verdade, ainda contamos com alguns elementos da campanha, o que dizer de uma cabeleireira ou do ex-funcionário do hotel que ainda por lá anda...
Duas conclusões ficam deste filme: O talento não é hereditário, nem a transposição de campos culturais é fácil(ou aconselhável)...



p.s.- piadinha maldosa: esperavam um filme decente com estes nomes- Ashton Kutcher, Demi Moore, Heather Graham, Lindsay Lohan e Sharon Stone?

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