“Alice”Portugal, 2005
De: Marco Martins
Com: Nuno Lopes;Beatriz Batarda;Miguel Guilherme
Mário é um pai a quem a filha desapareceu. Passaram-se bastantes dias desde que Alice desapareceu. Desde essa tarde em que a filha não saiu da escola, Mário ficou preso no tempo, repetindo quase de forma obssessiva-compulsiva o dia em que não mais viu a sua Alice. Levanta-se todos os dias à mesma hora, apanha o mesmo comboio, vê as mesmas pessoas e dá sempre esmola ao mesmo sem-abrigo. “Mais tarde ou mais cedo, ela vai ter de passar nas mesmas ruas” é a sua esperança. De tarde, e já depois de repetir e reviver o mesmo desgosto, procede à troca das cassetes que tem em câmaras espalhadas por toda a cidade de Lisboa. È nestes momentos que vemos as recções dos seus amigos à sua dor. O colega de teatro que lhe pergunta quais os resultados que espera obter, a velha beata que o assegura que acende uma vela pela sua filha na igreja e a amiga de alta sociedade que não o quer mais em sua casa. Mas Mário tem um emprego. É actor, condenado a todas as noites esconder a sua dor e recolher o seu sofrimento para agradar a uma plateia. Apenas perto do final do filme Mário tem dificuldades em fazer isto. A mãe, Luísa, não reagiu tão bem como Mário ao desaparecimento da filha. A sua dor é mais vísivel logo quando a policía não a consegue confortar, numa das cenas mais emocionantes da película, Luísa não aguenta e cede ao desespero na esquadra, logo após a participação do desaparecimento. Enquanto Mário fica nas ruas de Lisboa, em vão à procura da filha, Luísa é forçada a regressar a casa, onde tenta o suícidio. Ao fim de meio ano a vida do casal é uma rotina: Mário repete o mesmo o mesmo dia, preso no tempo, e Luísa encontra-se demasiado fragilizada para sequer esboçar uma reacção às buscas do marido. Ambos são agora estranhos, incapazes de comunicar um com o outro. No final de um dia como tantos outros, Mário vê a esperança reancender-se. Uma criança, vestida com o mesmo tipo de casaco com que estava Alice quando desapareceu, passa numa das rua vigiadas pelas sua câmaras. Este é o momento pelo qual Mário esperava, mas o final é tudo menos feliz, embora sujeito a várias interpretações. Na verdade, a impressão com que sai da sala de cinema é que as ultimas imagens do filme são propositadas para deixar qualquer espectador arrasado emocionalmente.
Na sua primeira longa-metragem Marco Martins tem um tema bastante dificíl: como mostrar a dor da perda de um filho? Para esta proposta arriscada conta com dois actores portugueses da nova geração: Nuno Lopes, que se revela ser um enorme actor e uma grande esperança para o cinema português(é mesmo ele quem “carrega” todo o peso do filme nas costas) e Beatriz Batarda, que vem apenas confirmar aquilo que já se dizia de si. O jovem realizador conta também com alguns valores seguros da representação nacional, como Ana Bustorff e Miguel Guilherme para os papeís secundários.Marco Martins investiu também na resolução do que parecia até à pouco tempo um problema crónico do cinema nacional: a qualidade da imagem. Neste filme, o director de fotografia Carlos Lopes faz um trabalho irrepreensível. É também notória a ausência de banda sonora em alguma cenas do filme por forma a potenciar todo o poder visual da imagem. Embora não esteja presente pontualmente, a banda sonora merece também uma referência: As obras interpretadas por Bernardo Sassetti conseguem assumir um tom trágico quando combinadas com a representação de Nuno Lopes e Beatriz Batarda.
2 comentários:
Na altura não gostei muito da forma como o filme acaba... mas bem vistas as coisas, só poderia acabar assim (ou bem pior).
E não tens o filme ´no meion das tuas cenas e situações...nunca vi...e até gostava...
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