11 agosto 2007

“Evan Almighty”
De:
Tom Shadyac
Com: Steve Carrell, Lauren Graham, Morgan Freeman
EUA, 2007, Cor, 95min

Evan Baxter acaba de se despedir da televisão onde trabalhava para se transformar no Congressista Evan Baxter. No entanto, o seu slogan de campanha “Vamos mudar o mundo” atraiu a atenção de Deus que o vai incumbir de repetir a tarefa de Noé.
Gosto de Steve Carrell. É um excelente actor de comédia, com um timing de entrega muito bom e com um passado de aprendizagem no Daily Show. Posto isto, não há muito mais de positivo a dizer deste filme. Altamente antecipado, devido ao seu elevado orçamento (175 milhões de dólares) que o transformaram na comédia mais cara de sempre, e também porque Carrell é O comediante do momento nos Estados Unidos. Certamente que conseguirá uma boa performance nas bilheteiras, mas não ficará na memória de muita gente e o próprio Carrell o deverá lembrar como não mais do que “o-filme-que-me-pagou-a-casa-de-férias”.
Mas falemos então do próprio filme e das impressões que me causou. Apesar de ter alguns bons pormenores humorísticos, alguns até de referência ao próprio actor principal (o cameo de Jon Stewart; um filme em exibição numa sala de cinema), na generalidade a comédia reduz-se ao humor físico mais básico: Evan tropeça num pedaço de madeira; Evan horroriza os mais próximos com a sua barba enorme; Evan acerta no dedo quando tenta martelar um prego. O tom que percorre todo o filme é o de uma tentativa de evangelização da plateia, por vezes disfarçada transformando o filme numa comédia desonestamente moralista, outra vezes não escondendo a sua tentativa de apelar ao público do “Bible-Belt” norte-americano.

Tom Shadyac não desilude mas também não deslumbra, uma realização competente q.b.. No entanto, e contrariando a tendência normal para a perfeição visual das grandes produções americanas, não é difícil de notar o aspecto sujo da fotografia, mais facilmente visível quando a acção pede rápidos movimentos de câmara. Outro aspecto visual que os diversos trailers anunciavam de forma menos airosa são os efeitos visuais. Com um orçamento a roçar as duas centenas de milhões de dólares, seria de esperar um maior cuidado visual com o aspecto final do filme. Tal não se verificou e são facilmente identificáveis quais as figuras adicionadas em pós-produção e quais as que estavam mesmo no plateau.

Como já escrevi, é nos pequenos pormenores que o filme revela a sua veia mais humorística mas, agora olhando para o plano mais geral, a nível do argumento, custa ver como a comédia que podia transformar este num bom filme, é constantemente subjugada pela tentativa de passar uma mensagem. Mensagem essa (o mundo pode ser mudado com um acto de bondade de cada vez), que parece direccionada a um público demasiado específico, e sempre apresentada como se a audiência fosse composta por alunos do ensino primário. A pretensão de tocar e modificar a alma do público acaba por prejudicar a comédia que, mantendo-se honesta e não tendo medo de ser comédia teria muito mais a ganhar.
A destacar ainda a performance de Lauren Graham, que depois do papel em “Bad Santa” (2003, Terry Zwigoff) parece, infelizmente, destinada a alternar uma carreira televisiva com papeís secundários em filmes menores. Uma ultima palavra ainda para Steve Carrell: esperamos melhor de “Get Smart”, a estrear no próximo ano.

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