Bruges, cidade bucólica. Bruges, cidade medieval. Bruges, destino turístico apreciado pela multiplicidade de turismo cultural á disposição dos visitantes. Bruges, local perfeito para dois assassinos a soldo se esconderem depois de um trabalho que acabou mal.
É este o ponto de partida para “Em Bruges”: dois trabalhadores da indústria dos “afastamentos coercivos” são enviados para a cidade belga algumas semanas até que o ambiente causado por um trabalho mal executado se possa dissipar. Até aqui nada de fantásttico num filme que deixa antever, pelo trailer, mais uma estória de gangster ao estilo “Snatch” de Guy Ritchie. Ou seja, muitos tiros, muitos palavrões e personagens idiossincráticas enquanto que o resto do filme passa numa névoa de movimento estilizado.
“Em Bruges” não é isto.
“Em Bruges” é um Noir-Europeu como há poucos, sendo que aqui não é a cidade o local ameaçador que tão bem é representado no noir clássico, mas é sim um local quase paradisíaco subvertido pela presença de duas figuras que escapam ao bucolismo da “cidade medieval mais bem preservada da Europa”. Sigamos então para as personagens. Comecemos por Ray, interpretado por Colin Farrel, é o jovem impaciente, atormentado pelo tal trabalho que não correu bem e dominado por sentimentos de culpa em relação ao que fez. Para Ray, não só a cidade de Bruges é uma pasmaceira, como também o país onde ela se encontra, “Porque é que alguém tem de ir à Bélgica?” deixa a interrogação ao espectador no final do filme. Ao bom estilo do cinema noir, a culpa e os tormentos de Ray são finalmente ultrapassados quando este consegue relacionar-se com a mulher redentora do filme. Ken é mais velho que Ray. Ken aprecia o tempo passado em Bruges como uma verdadeira oportunidade para relaxar e acalmar, ao contrário de Ray. É o mentor deste, tendo os dois uma relação com uma dinâmica pai-filho que Ken será obrigado a testar por imposição de Harry. Harry é o patrão dos dois. Apesar de não ter meias-medidas no tratamento dos seus empregados, Harry é um homem de príncipios, o que não deixa de ser uma ironia, tratando-se de um gangster. Há ainda que referir o anão racista (do qual não me lembro do nome), cereja no topo do bolo de humor negro e seco que é este filme. A festa com o anão e as prostitutas a que Ken e Ray vão é uma das peças centrais na definição do tom de comédia negra, apesar de ser apenas um interlúdio na narrativa principal da relação entre Ray e Ken.
Primeira longa-metragem de Martin Mcdonagh, este que é já um realizador oscarizado com a curta Six-Shooter, faz aqui bem a transição para formatos de maior duração. O filme aproveita bem a paisagem de Bruges para lançar mão de alguns planos extremamente belos, enquanto deixa a narrativa a fermentar. Nada a destacar no campo da fotografia, mas a banda sonora merece destaque, com o minimalismo a saltar à cabeça.
“Em Bruges” é um filme sobre a inocência, como se perde, como a recuperar, se é que é possível e como a manter num contexto extremamente contraditório com ela. Excelentes desempenhos dos três actores principais, Brendan Gleeson, Ralph Finnes e, sobretudo, Colin Farrel.
É este o ponto de partida para “Em Bruges”: dois trabalhadores da indústria dos “afastamentos coercivos” são enviados para a cidade belga algumas semanas até que o ambiente causado por um trabalho mal executado se possa dissipar. Até aqui nada de fantásttico num filme que deixa antever, pelo trailer, mais uma estória de gangster ao estilo “Snatch” de Guy Ritchie. Ou seja, muitos tiros, muitos palavrões e personagens idiossincráticas enquanto que o resto do filme passa numa névoa de movimento estilizado.
“Em Bruges” não é isto.
“Em Bruges” é um Noir-Europeu como há poucos, sendo que aqui não é a cidade o local ameaçador que tão bem é representado no noir clássico, mas é sim um local quase paradisíaco subvertido pela presença de duas figuras que escapam ao bucolismo da “cidade medieval mais bem preservada da Europa”. Sigamos então para as personagens. Comecemos por Ray, interpretado por Colin Farrel, é o jovem impaciente, atormentado pelo tal trabalho que não correu bem e dominado por sentimentos de culpa em relação ao que fez. Para Ray, não só a cidade de Bruges é uma pasmaceira, como também o país onde ela se encontra, “Porque é que alguém tem de ir à Bélgica?” deixa a interrogação ao espectador no final do filme. Ao bom estilo do cinema noir, a culpa e os tormentos de Ray são finalmente ultrapassados quando este consegue relacionar-se com a mulher redentora do filme. Ken é mais velho que Ray. Ken aprecia o tempo passado em Bruges como uma verdadeira oportunidade para relaxar e acalmar, ao contrário de Ray. É o mentor deste, tendo os dois uma relação com uma dinâmica pai-filho que Ken será obrigado a testar por imposição de Harry. Harry é o patrão dos dois. Apesar de não ter meias-medidas no tratamento dos seus empregados, Harry é um homem de príncipios, o que não deixa de ser uma ironia, tratando-se de um gangster. Há ainda que referir o anão racista (do qual não me lembro do nome), cereja no topo do bolo de humor negro e seco que é este filme. A festa com o anão e as prostitutas a que Ken e Ray vão é uma das peças centrais na definição do tom de comédia negra, apesar de ser apenas um interlúdio na narrativa principal da relação entre Ray e Ken.
Primeira longa-metragem de Martin Mcdonagh, este que é já um realizador oscarizado com a curta Six-Shooter, faz aqui bem a transição para formatos de maior duração. O filme aproveita bem a paisagem de Bruges para lançar mão de alguns planos extremamente belos, enquanto deixa a narrativa a fermentar. Nada a destacar no campo da fotografia, mas a banda sonora merece destaque, com o minimalismo a saltar à cabeça.
“Em Bruges” é um filme sobre a inocência, como se perde, como a recuperar, se é que é possível e como a manter num contexto extremamente contraditório com ela. Excelentes desempenhos dos três actores principais, Brendan Gleeson, Ralph Finnes e, sobretudo, Colin Farrel.